HERMÍNIO MIRANDA
Na revista inglesa “Two Worlds”, nunca faltam os comentários de Silver Birch, obtidos nas sessões que se realizam no circulo iniciado por Hannen Swaffer. Recentemente, como informa o número de Julho de 63, compareceu a uma daquelas sessões a famosa Michaela Denis, que realizou, com seu marido, uma série de filmes do tipo “safari”, para a televisão britânica.
Já havia lido muito sobre o guia espiritual e estava ansiosa por falar-lhe diretamente. O Espírito a recebe cordialmente e lhe faz interessante observação: “Antes de mais nada, devo explicar que se me torna muito difícil corresponder à imagem que de mim pintaram. Não sou o sábio onisciente que parece emergir dessas palavras impressas. Sou apenas um ser humano como a senhora mesma, que caminhou um pouco mais ao longo da estrada da vida e fez uma revisão na sua caminhada, porque umas poucas experiências me proporcionaram certo conhecimento. Gostaria de compartilhar esse conhecimento com quem quer que se interessasse em recebê-lo. Alegro-me em saber que alguma coisa, do que tenho dito, encontrou abrigo nas almas e nas mentes alheias.”
Pouco adiante prega a unicidade perfeita da vida, dizendo que o mesmo espírito divino anima todas as criaturas e recomenda à sua ouvinte que nunca se canse de trabalhar pelo ideal de compaixão para com os animais, pois que “essa é a razão pela qual a senhora se encarnou no mundo da matéria. Há muito tempo - prossegue o Espírito -a senhora decidiu voltar (come back) a fim de desempenhar importante papel na campanha destinada a ajudar a neutralizar o sofrimento causado por homens desorientados, voluntariosos e perversos”.
E’ bom chamar a atenção do leitor para a pregação reencarnacionista de Silver Birch, o mais respeitado, admirado e famoso guia espiritual ora entre os ingleses. Isso porque não falta quem diga que os Espíritos que se manifestam no mundo anglo-saxônio são contrários à reencarnação. Aqui temos um que o não é; e, como dizia o sábio, é bastante um urubu branco para provar que nem todos os urubus são negros.
A tranqüila sabedoria deste Espírito é fonte de constante satisfação para todos os que o ouvem e lêem. Para tudo quanto lhe perguntam tem uma resposta adequada e oportuna. Sabedor de que uma pessoa não queria interessar-se pelos fenômenos psíquicos, porque tinha medo, respondeu o Espírito: “E’ o medo do desconhecido, tal como o da criança que teme a escuridão. Mas a escuridão é parte integrante do amor do Grande Espírito, da mesma forma que, a luz. Sem a sombra não haveria a luz nem a vida, porque toda a vida germina na sombra. Entretanto, nada deve ser forçado nesta esfera. Quando o espírito estiver pronto, ele próprio haverá de inquirir.”
Mais adiante, lembra sua ouvinte que o pioneirismo exige que por ele se pague um preço. Mas, diz Silver Birch, “contar-lhe-ei um segredo: Se fosse fácil tomar-se pioneiro, não valeria a pena sê-lo”.
E depois, volta a insistir em que é apenas “o porta-voz de uma sabedoria maior”. Umas poucas linhas atrás, ensinava que “servir, servir, servir, essa é a religião do Espírito”. E acrescentava: “Não nos interessam rituais, cerimônias, credos, doutrinas ou dogmas. Isso não importa, a não ser, talvez, para produzir alguma satisfação de natureza estética.”
Menciona, a seguir, as dificuldades que às vezes temos de enfrentar, pelo fato de possuirmos um corpo físico. Recomenda que não nos deixemos dominar por esses problemas. “Vocês são - já disse isto antes - Espíritos na posse de um corpo e não corpos que têm um Espírito, o que é inteiramente diferente. O corpo é servo, o Espírito é rei. Não transponham essas posições.”
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Prossegue a publicação da série de comunicações recebidas por intermédio de Geraldine Cummins, acerca do mundo espiritual dos pássaros. O Espírito comunicante se dirige à irmã encarnada, para falar do trabalho que ele vem desenvolvendo nos “laboratórios da Natureza”. Conta-lhe as coisas que ela viu em sua companhia quando, afastada do corpo físico pelo sono fisiológico, foi inteirar-se da atividade do irmão desencarnado. Há muita coisa interessante na comunicação, que relata o imenso, delicado e altamente técnico trabalho de estudo e preparo que vai no simples nascimento de um pássaro ou de uma borboleta, bem como o estudo dos sons e das cores que vão servir a esses minúsculos seres de Deus.
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C. K. Shaw descreve em sua coluna a reação (favorável) que teve ao seu artigo anterior sobre a fé, que ele considera, e com justeza, uma força real e poderosa como a gravidade ou a eletricidade.
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Edmund Bentley conta um simpático episódio no qual um sábio Swami, em Baleshwar, na Índia, salvou a vida de um tigre da paixão destruidora de dois caçadores ingleses. O Swami tinha uma espécie de contrato com os animais de toda a região: nem os bichos incomodariam os homens, nem estes àqueles. Os dois ingleses estavam a ponto de pôr tudo a perder, quebrando o trato. O misterioso Swami se ofereceu então para aparecer à noite, sob o luar, com um tigre vivo e uma corça e passar em frente ao posto onde estariam os ingleses, para que estes, deslumbrados pelo espetáculo da fraternidade entre homens e bichos, desistissem de seus propósitos. Isso foi feito e tudo acabou bem, mas os ingleses custaram um pouco a crer nos seus próprios olhos.
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A Sra. Anne Doodley analisa o livro “An Outline of Spirituol Healing” de Gordon Turner (publicado pela firma Parrish, ao preço de 16 shillings). O autor, segundo esclarece a nota crítica, fala de suas experiências de médium curador que, praticamente, não vê limites no poder de realizar o que dantes se chamava “milagre”. Descreve um dos seus casos notáveis, informando que, chamado para acudir um gatinho de estimação que havia sido atropelado, concluiu que nada mais podia fazer. O bichinho mal respirava; um veterinário já lhe havia aplicado uma injeção sedativa para evitar-lhe o sofrimento. O Sr. Turner achou, porém, que deveria ajoelhar-se e orar com as mãos estendidas sobre o gatinho, para “ajudar a passagem do seu espírito para uma região mais feliz”. Qual não foi sua surpresa, porém, ao cabo de dois ou três minutos, ao ver o bichano levantar-se, atravessar a sala e ir tranquilamente tomar um pouco de leite. Não teve mais nada e tornou-se um animal adulto.
“A cura espiritual - diz ele - não resulta da intervenção direta de Deus para derrogar suas próprias leis. E’ a restauração de um estado de harmonia, conseguido pelo ajustamento nas relações entre o ser físico e o espiritual.”
Aí está uma explicação perfeitamente aceitável e de acordo com a melhor doutrina. Não deixa de ser bastante alentador verificar-se que os princípios pregados pelo Espiritismo, há um século, vão-se divulgando uniformemente pelo mundo afora, num trabalho notável que traz em si uma unidade de propósitos e de inspiração realmente extraordinários.
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Um leitor que assina R. Fenn, oferece a idéia de um aparelho eletrônico para dispensar a necessidade do médium na comunicação espírita. A coisa é algo complicada e, ao que parece, o próprio autor da idéia não tem uma concepção muito nítida da máquina. Em resumo, porém, seria um aparelho que, em contacto com a pele do indivíduo, receberia dos músculos deste os sinais captados do mundo espiritual e os transmitida, eletronicamente, a urna agulha que, por sua vez, registraria as vibrações num cilindro de cera. Depois, era só tocar o cilindro para ouvir os sons ali gravados. A idéia, diz o autor, é baseada no princípio de que “isso a que chamamos Espíritos são, na realidade, grupos de atitudes mentais, qualidades, memórias, etc. (que integram a personalidade) e ocasionalmente se ligam ao médium”.
Ao pé da carta do leitor, a revista imprimiu um comentário sóbrio, mas bastante lúcido: “Estaria correta a presunção de que “isso a que chamamos Espíritos são na realidade grupos de atitudes mentais, etc.?”
Não é preciso comentar. O Espírito sobrevive mesmo, integralmente, como entidade consciente, dono de uma vontade própria, tal como era na Terra. A única diferença é que não tem mais seu corpo físico. Não é, pois, um mero conjunto de atitudes mentais. E uma consequência, que se baseia numa premissa falsa, também sai falsa.
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Algumas páginas adiante a revista transcreve uma comunicação firmada pelo Espírito de Lorde Curzon, na qual o comunicante apresenta seguros argumentos contra a tese de que o médium retira de seu próprio subconsciente o teor das suas produções. “Com que faculdade, pergunta o Espírito, a mente seleciona inconscientemente o assunto, põe-no em ordem e o reproduz num estilo correto, tão velozmente, e ao mesmo tempo adota, como autor fictício da comunicação, um nome pessoalmente desconhecido?” Em seguida, volta-se para a Psicologia e a critica de forma inteligente. Termina dizendo que, sem desejar profetizar, “dentro de poucos anos vossos livros didáticos de Psicologia parecerão mais antiquados que Tomás de Aquino
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Finalmente um pequeno trabalho de W. O’Neil, que julga a mediunidade algo “contagiante”, por assim dizer, pois que, ao lado de certos médiuns, outros se desenvolvem paulatinamente, por um processo magnético ainda pouco estudado. No intercâmbio de vibrações da aura do médium para a daqueles que o cercam, se processam fenômenos de natureza magnética. O médium, na opinião do autor, seria uma espécie de eletro-magneto a receber força dos que se acham à sua volta.
Não tenho conhecimento científico para discutir o assunto, mas a idéia parece pelo menos digna de consideração. Em nosso meio, já existem estudos altamente eruditos contidos nos livros “Evolução em Dois Mundos” e “Mecanismos da Mediunidade”, ambos da Federação. E’ uma pena que a ciência oficial ainda não se tenha dedicado mais profundamente ao assunto. Quando o fizer, os livros espíritas servirão de subsídio precioso às suas pesquisas. Lá chegaremos em breve, segundo todos nós estamos sentindo, tanto encarnados como desencarnados. E’ o que confirmava ainda há pouco o Espírito de Lorde Curzon, o grande político e pensador inglês.
Fonte: Reformador, fevereiro, 1964
Responsável pela transcrição: Wadi Ibrahim
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